- O Boi -
infância faz de nós adultos saudosos. Época de delícias e de inocência, de sorrisos e de curiosidades. Também de aventuras inesquecíveis...
Hoje me lembrei do caso do boi bravo, um dos maiores apuros (e foram muitos) de Claudinha...
Eu, com quatro anos, e meu irmão com menos de um ano, ficávamos aos cuidados de nossa babá (Silvinha - a Vinha) muito querida, enquanto nossos pais trabalhavam. Minha mãe sempre nos deixava na casa de nossa avó paterna, com a babá, mas naquele dia ficamos em nossa casa.
Naquele tempo, fim dos anos 60, em nossa cidade, o transporte de gado para o matadouro era feito através de boiadas. Aqueles animais, dos quais tenho medo até hoje, circulavam em procissão rumo à morte. Sempre ouvi casos horríveis de crianças que ficaram na rua e acabaram no meio da boiada, umas foram pisoteadas, outras saíram incólumes, milagre! Ora, eram casos contados por todas as crianças da rua e eram assuntos meio contagiantes e muito misteriosos... Embora eu nunca tivesse visto nenhum tipo de acidente, acreditava em todas as histórias da meninada.
Neste belo dia, a Vinha, com meu irmão no colo, chamou-me à janela da sala para ver o boi da cara preta passar. “Boi, boi, boi, boi da cara preta...” Minha mãe sempre ensinou que isto era música de terror e não admitia, mas a babá cantava e a gente achava graça. E lá ia o boi preto da cara preta.
Jamais me esquecerei daquela cara, toda preta, bufando, chifres tortos e de repente olhando nos meus olhinhos de menina assustada.
Ele continuou me olhando e deve ter sentido o meu medo porque veio furioso em minha direção.
Só me lembro da Vinha gritando “Vaimbora”! E com apenas uma mão tentando fechar as janelas de madeira antiga, com meu irmão no colo.
O animal furioso, tentava entrar dentro de casa e eu me lembro de ver suas patas batendo na Vinha e na janela. Ela deixou meu irmão no sofá e mandou que eu corresse, enquanto fechava a janela.
A imagem do quarto de meus pais, jamais saiu de minha cabeça. Era um quarto simples, uma cama de casal, um guarda-roupa, um berço enorme, que já tinha sido meu e não entendia porque tinham dado para o meu irmão. Ao lado da cama, dois abajures de louça, recortados, que faziam desenhos no teto e nas paredes. Ainda lembro direitinho da janela que dava para o bairro da carioca (vide foto) e da colcha felpuda na qual eu me ajoelhei.
Jamais havia rezado com tanto fervor. Olhava o crucifixo acima da cama e pedia a Jesus para nos salvar.
Não sei por quanto tempo fiquei ali. Pareceu-me uma eternidade. Só saí quando a Vinha conseguiu fazer meu irmão parar de chorar e o colocou no berço (hmmm, o meu berço...). Ela me levou até a cozinha, mostrou que a janela estava fechada e me deu um bom copo de água com açúcar. Nós duas tremíamos e ríamos de tudo.
Ela não me deixou ver, nem saber naquele dia, mas o boiadeiro matou o boi ali mesmo na porta de minha casa. O animal endoidou.
Deste dia em diante a Vinha passou a ser minha heroína, ela venceu o boi bravo! E passou então a fazer parte das minhas brincadeiras, ela era o cow-boy e eu era o bandido, claro (Já falei do meu desvio de caráter em sempre me apaixonar pelo bandido!)... Ela era o mocinho, e eu assaltava o pote de biscoitos do xerife (minha mãe, rsrs), ou as bananas da vizinha (Ah, Dona Jandira)...
E quantos aos bois, que fiquem bem longe de mim...
.:: Você Ouve: Noites Com Sol - Flávio Venturini ::.
infância faz de nós adultos saudosos. Época de delícias e de inocência, de sorrisos e de curiosidades. Também de aventuras inesquecíveis...
Hoje me lembrei do caso do boi bravo, um dos maiores apuros (e foram muitos) de Claudinha...
Eu, com quatro anos, e meu irmão com menos de um ano, ficávamos aos cuidados de nossa babá (Silvinha - a Vinha) muito querida, enquanto nossos pais trabalhavam. Minha mãe sempre nos deixava na casa de nossa avó paterna, com a babá, mas naquele dia ficamos em nossa casa.
Naquele tempo, fim dos anos 60, em nossa cidade, o transporte de gado para o matadouro era feito através de boiadas. Aqueles animais, dos quais tenho medo até hoje, circulavam em procissão rumo à morte. Sempre ouvi casos horríveis de crianças que ficaram na rua e acabaram no meio da boiada, umas foram pisoteadas, outras saíram incólumes, milagre! Ora, eram casos contados por todas as crianças da rua e eram assuntos meio contagiantes e muito misteriosos... Embora eu nunca tivesse visto nenhum tipo de acidente, acreditava em todas as histórias da meninada.
Neste belo dia, a Vinha, com meu irmão no colo, chamou-me à janela da sala para ver o boi da cara preta passar. “Boi, boi, boi, boi da cara preta...” Minha mãe sempre ensinou que isto era música de terror e não admitia, mas a babá cantava e a gente achava graça. E lá ia o boi preto da cara preta.
Jamais me esquecerei daquela cara, toda preta, bufando, chifres tortos e de repente olhando nos meus olhinhos de menina assustada.
Ele continuou me olhando e deve ter sentido o meu medo porque veio furioso em minha direção.
Só me lembro da Vinha gritando “Vaimbora”! E com apenas uma mão tentando fechar as janelas de madeira antiga, com meu irmão no colo.
O animal furioso, tentava entrar dentro de casa e eu me lembro de ver suas patas batendo na Vinha e na janela. Ela deixou meu irmão no sofá e mandou que eu corresse, enquanto fechava a janela.
A imagem do quarto de meus pais, jamais saiu de minha cabeça. Era um quarto simples, uma cama de casal, um guarda-roupa, um berço enorme, que já tinha sido meu e não entendia porque tinham dado para o meu irmão. Ao lado da cama, dois abajures de louça, recortados, que faziam desenhos no teto e nas paredes. Ainda lembro direitinho da janela que dava para o bairro da carioca (vide foto) e da colcha felpuda na qual eu me ajoelhei.
Jamais havia rezado com tanto fervor. Olhava o crucifixo acima da cama e pedia a Jesus para nos salvar.
Não sei por quanto tempo fiquei ali. Pareceu-me uma eternidade. Só saí quando a Vinha conseguiu fazer meu irmão parar de chorar e o colocou no berço (hmmm, o meu berço...). Ela me levou até a cozinha, mostrou que a janela estava fechada e me deu um bom copo de água com açúcar. Nós duas tremíamos e ríamos de tudo.
Ela não me deixou ver, nem saber naquele dia, mas o boiadeiro matou o boi ali mesmo na porta de minha casa. O animal endoidou.
Deste dia em diante a Vinha passou a ser minha heroína, ela venceu o boi bravo! E passou então a fazer parte das minhas brincadeiras, ela era o cow-boy e eu era o bandido, claro (Já falei do meu desvio de caráter em sempre me apaixonar pelo bandido!)... Ela era o mocinho, e eu assaltava o pote de biscoitos do xerife (minha mãe, rsrs), ou as bananas da vizinha (Ah, Dona Jandira)...
E quantos aos bois, que fiquem bem longe de mim...
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