quinta-feira, março 16, 2006

Memórias de Borboleta IX



Existem textos que mexem comigo, com minha imaginação, com meu coração... Existem músicas que me fazem querer dançar coladinho (esta é uma delas...).
Eu sei que existe uma Claudinha menina escondida nesta mulher que anda meio tristinha, uma menina tímida e insegura(acreditem!)...
Este texto faz parte do meu caderninho de capa laranja (viu Duda?), relíquia dos tempos de menina. Queria relembrar, quem vem comigo?
...Naqueles dias... Faltava quatro meses para eu conhecer o Szafir, tentava convencer Duda a namorar o meu novo amigo, o “nosso” Leilei (e consegui!!!). Faculdade, 1º ano, tudo novo, cidade grande, eu refém de assalto, novas bandeiras...

Chuva e Estrelas
(Campinas -SP - março/1983)

A brisa da tarde chegou trazendo-me lágrimas, soluços e inquietação. O céu se encobriu de nuvens obesas e negras, o mundo parou por instantes...
A luz fugiu de mim e rompeu minhas barreiras. Muitos não a veriam e haveriam de pagar caro por sua distração... As minhas linhas coloridas, que marcavam bordados em meus linhos, desbotaram diante desta fuga... Sem conseguir enxergá-las mais, fixei meus olhares para a imensidão e pude ver a tormenta surgir do nada, mostrando o tudo... Meu coração, tal e qual, tanto e quanto, atormentado, atordoado, disparou de medo e de admiração, diante do fenômeno da natureza...

A chuva desabou com grande estardalhaço e fúria de titã, lavando minha alma e seus desesperos... As águas prateadas revelaram meus segredos e minha face enrubescida me condenou, denunciou. Nem precisava, sempre falei mais que deveria... Sempre me mostrei toda, mesmo sem querer. Seria novamente motivo de risos, seria de novo um brinquedo.

Do alto dos prédios, ventos uivantes brincaram de carregar gotas de água pelas vidraças. Senti medo da cidade grande, medo do desconhecido, medo de enfrentar meu espelho, medo de saber quem realmente sou.

E quando a temida noite enfim chegou, sua suavidade incorporou-se ao céu e lançou purpurinas de estrelas sobre o meu viver... Levou para longe a chuva. Tratou de me acalmar. Nunca mais tive medo dela, a noite me trazia paz e aconchego...

Um vento morno encheu meu coração de promessas e, quando um novo dia amanheceu, quase tudo estava em seu lugar. As poucas árvores da praça em frente, agora sem folhas, mantinham seus braços erguidos como em prece...
Eu, agora sem lágrimas, mantinha meu coração aberto...
Agradecendo, pois... sobrevivemos!

Porém, sempre haverá um novo entardecer, e com ele, chegará um sentimento estranho, carregado de nostalgia , melancolia e saudade nem sei de quê. E eu sempre estarei esperando a noite, seus veludos e suas purpurinas, para poder repousar e sonhar...

.:: Você ouve: Love of My Life - Queen (A música dos meus quinze anos - 1979)

3 comentários:

Anônimo disse...

Claudinha:

Puxa,somos da mesma idade... só agora reparei,acreditas? Em 1979 eu era vidrado em Tina Charles.

Para uma adolescente,o texto escrito por ela revelava uma mulher de alma insigne,sonorosa no silêncio do âmago,silenciosa no som do cern

Ah,como amo chuvas,e como adentro em coisas assim,memórias grisalhas - que a borracha do tempo não apagará -,introjetada em dias pluviais!

Parabéns pelo que foste e continuas sendo.

Anônimo disse...

Cerne

Marco disse...

Doce amiga Claudinha,

Que texto bonito! Com tanta sensibilidade!
Imagino que hoje você já não tenha mais medo dos temporais. Eles trazem som e fúria, mas lavam o céu, limpam o ar, prenunciam a calma dos períodos de bonança.
E que esta bonança te alcance agora, que te imagino recolhida. Carpe Diem, minha querida. É hora da eterna borboleta que existe em você sair do casulo e maravilhar o jardim com sua magnífica presença.
Era para eu ter participado do coro de Love of My Life, no Rock in Rio 1. Não consegui ingressos e me lamento até hoje por isso...
Parafraseando a letra desta bela música te escrevo:
"Bring it back bring it back
Don't take it away from me
'cause you don't know
What it means to US".
Um beijo grande.